Sem querer que penses no eterno, deixa-me dizer-te apenas isto:
Que o frio que aperta e nos faz ferida pode ser vencido num abraço, num momento só que eternizado pode atravessar o inatingível.
Deixa-me dizer-te que o tempo traz promessas vãs de tão perversas.
Deixa-me dizer-te que se preferires deixarei que me roubem a alma.
Não é o tempo que faz o amor. Tudo – mas tudo – leva apenas a um fim, a esta insensatez.
E é este silêncio que me rasga com unhas famintas por saber o que perdi quando te encontrei e o que encontrei quando te perdi.
Aqui, onde nunca estás, verte-me pelo peito o silêncio que me come a boca, os dentes e o resto. E pergunto-me porque nunca me sacias, porque não me dás tudo tudo tudo, sem achar que estou mal habituada, que tem de haver contenção, que amanha é outro dia. Gostava que me deixasses viver em overdose.
Desculpa mais uma vez a vulnerabilidade. Desculpa se tanto insisto em desejo para que juntes as tuas mãos e me cedas guarida.
Sabes quando nos fechamos por dentro e quando o nosso sentir nos assusta e o empurramos para o fundo?
Quando ficamos sem saber como lidar com os outros e com nós mesmos?
Sabes quando escondemos isso do mundo porque temos medo de mostrar fraquezas e abrir brechas por onde possa raiar a debilidade?
Ás vezes apetece-me acordar-te a meio da noite e implorar-te que me ames. Obrigar-te a pensar-me, a sentir-me a falta, a valorizar. Depois racionalizo a estupidez de ideia e revolto-me, e depois sou forte, e torço-me e levanto-me e vou contra mim e contra tudo o que me sabe certo na alma.
Engano-me com pequenas vitórias e continuo a subornar o coração para não me chatear.
Um lugar estranho ocupa tudo aquilo que és. Não te sinto perto –nunca te senti perto.
Só a memória. Restrita. Ausente. Incapaz.
E começo a pensar que o amanha não existe porque me consumiste toda em insatisfação.
Nunca fui tua.
Tiveste-me entre mãos e nunca fui tua.
Vivi nos teus olhos, na tua cama, rente ao teu corpo e nunca fui tua.
Não preciso de ti. Repito de forma insolente – Não preciso de ti!
Não preciso de ti assim como ninguém precisa de quem nunca se dá.
E odeio e odeio-te por estas frases e textos repletos de prenúncios de morte.
E odeio às vezes pensar que a solução é fácil – perder-me em copos sujos, saliva oferecida e na sensação abrupta da tua ausência.
E pergunto, de punhos cerrados, se será isto o fim.
Eu já não durmo. Só espero pacientemente que as horas durmam.
Estás tão longe e tão perto do âmago daquilo que sou, onde habitas a partir do momento e que disseste o meu nome.
Ou então um começo, efémero enquanto pode. Tu és aquilo que nunca me deste e eu sou o mundo que nunca terás.
O mundo dorme lá fora, e eu começo a achar que só a tua pele apaga as luzes da cidade.
A felicidade não é inocente e límpida. Não é genuína e começo a achar que não me é legítima. Acho que a felicidade necessita de promiscuidade.
Ás vezes tenho saudades dos outros, do que deixámos para trás e dos que nos deixaram. Dos que fizeram questão de nos provar que nada é eterno.
Ás vezes apetecia-me fugir para o passado. Só para ter o prazer de também dele fugir.
A minha vida podia ser um livro aberto – folhas presas, dedos soltos, o tempo da espera.
Um livro por fechar, o tempo de partir.
Um tempo de largar os óculos e deixar de tentar ler o que é ilegível.
Um meio para um fim.
Rasgarei as tuas últimas páginas onde os nossos rostos se apagam e eu me apago de mim, para que nunca mais seja eu a que a minha tristeza não serve.
2 comentários:
Para ouvir até que a letra se entranhe na pele da culpa e na essência da ausência de uma razão
Sem querer que penses no eterno, deixa-me dizer-te apenas isto:
Que o frio que aperta e nos faz ferida pode ser vencido num abraço, num momento só que eternizado pode atravessar o inatingível.
Deixa-me dizer-te que o tempo traz promessas vãs de tão perversas.
Deixa-me dizer-te que se preferires deixarei que me roubem a alma.
Não é o tempo que faz o amor. Tudo – mas tudo – leva apenas a um fim, a esta insensatez.
E é este silêncio que me rasga com unhas famintas por saber o que perdi quando te encontrei e o que encontrei quando te perdi.
Aqui, onde nunca estás, verte-me pelo peito o silêncio que me come a boca, os dentes e o resto. E pergunto-me porque nunca me sacias, porque não me dás tudo tudo tudo, sem achar que estou mal habituada, que tem de haver contenção, que amanha é outro dia. Gostava que me deixasses viver em overdose.
Desculpa mais uma vez a vulnerabilidade. Desculpa se tanto insisto em desejo para que juntes as tuas mãos e me cedas guarida.
Sabes quando nos fechamos por dentro e quando o nosso sentir nos assusta e o empurramos para o fundo?
Quando ficamos sem saber como lidar com os outros e com nós mesmos?
Sabes quando escondemos isso do mundo porque temos medo de mostrar fraquezas e abrir brechas por onde possa raiar a debilidade?
Ás vezes apetece-me acordar-te a meio da noite e implorar-te que me ames. Obrigar-te a pensar-me, a sentir-me a falta, a valorizar. Depois racionalizo a estupidez de ideia e revolto-me, e depois sou forte, e torço-me e levanto-me e vou contra mim e contra tudo o que me sabe certo na alma.
Engano-me com pequenas vitórias e continuo a subornar o coração para não me chatear.
Um lugar estranho ocupa tudo aquilo que és. Não te sinto perto –nunca te senti perto.
Só a memória. Restrita. Ausente. Incapaz.
E começo a pensar que o amanha não existe porque me consumiste toda em insatisfação.
Nunca fui tua.
Tiveste-me entre mãos e nunca fui tua.
Vivi nos teus olhos, na tua cama, rente ao teu corpo e nunca fui tua.
Não preciso de ti. Repito de forma insolente – Não preciso de ti!
Não preciso de ti assim como ninguém precisa de quem nunca se dá.
E odeio e odeio-te por estas frases e textos repletos de prenúncios de morte.
E odeio às vezes pensar que a solução é fácil – perder-me em copos sujos, saliva oferecida e na sensação abrupta da tua ausência.
E pergunto, de punhos cerrados, se será isto o fim.
Eu já não durmo. Só espero pacientemente que as horas durmam.
Estás tão longe e tão perto do âmago daquilo que sou, onde habitas a partir do momento e que disseste o meu nome.
Ou então um começo, efémero enquanto pode. Tu és aquilo que nunca me deste e eu sou o mundo que nunca terás.
O mundo dorme lá fora, e eu começo a achar que só a tua pele apaga as luzes da cidade.
A felicidade não é inocente e límpida. Não é genuína e começo a achar que não me é legítima. Acho que a felicidade necessita de promiscuidade.
Ás vezes tenho saudades dos outros, do que deixámos para trás e dos que nos deixaram. Dos que fizeram questão de nos provar que nada é eterno.
Ás vezes apetecia-me fugir para o passado. Só para ter o prazer de também dele fugir.
A minha vida podia ser um livro aberto – folhas presas, dedos soltos, o tempo da espera.
Um livro por fechar, o tempo de partir.
Um tempo de largar os óculos e deixar de tentar ler o que é ilegível.
Um meio para um fim.
Rasgarei as tuas últimas páginas onde os nossos rostos se apagam e eu me apago de mim, para que nunca mais seja eu a que a minha tristeza não serve.
A tua vida ainda é a história principal.
A minha... vem em anexo.
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