domingo, 28 de agosto de 2011

Faz-me um favor....


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

domingo, 23 de janeiro de 2011

Confundimos os deuses....


Confundimos os deuses
quando pedimos perdão
e de joelhos a sangrar pelo vazio
do erro ou da razão,
quando no pico do êxtase
gememos como crianças
e nos libertamos da ânsia
de devorar o mundo.
Mas teu ventre ainda molhado
já esqueceu,
os rostos do Olimpo
e o simples
que é,
Amar …..



Nimbus



Poema entre quatro paredes



Quantas vezes fugi de quatro paredes?
Quantas vezes as difamei,
e pouco cavalheiro,
as abandonei?
Quantas vezes as pintei de negro
com estrelas desenhadas,
de azul com nuvens no horizonte estampadas?
Quantas vezes nem as vi,
e as trespassei?
Hoje,
são a âncora da minha fragata,
e nelas quero habitar!
Nelas te quero ver nua e te fecundar!
São monstros, fadas
com conquistas e fanfarras
que outrora desafiei!
Mas não!
Não mais,
sem que antes
a gélida cor destas paredes
se me apresente como é,
fria, verde e sem maré,
não mais vida,
para além delas,
sem que antes,
teu robe deslize,
pela tinta crua
de quatro paredes …..



Nimbus




sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Uma matilha....


Uma matilha
procura em ti abrigo
e as palavras são agora
uivos
sinos e gemidos,
Finalmente minhas asas
tomam a forma de uma montanha
e deixem o vale
pelo declive de tuas coxas,
Deixa que o silencio
navegue em ti
que o passado e a saudade
sejam o frio do mistral
que o amanhã
não seja desejo
mas surpresa
deixa dormir em ti
as memórias
o som infernal do vulcão,
Irei
como cheguei
não ouvirás meus passos na calçada
nem o postigo da porta
a gemer pela invasão de minha mão,
Longe
a tua pele
transforma-se em papel
que conquisto
com a tinta da caneta
como meus lábios
a beber todos os recantos de teu corpo,
A escrita
procura-te
mas não te beija,
Quantos falsos profetas
nos vão ainda bater á porta
e nos prometer
noites e dias
de orgasmos prateados…


Nimbus

Não mais chaves...

Não mais chaves
nem portas
para nos separar desta estranha forma de felicidade.
Consegues ouvir os cavalos?
Seus cascos
a gemer no asfalto o chicote?
E tu
com luvas de lã
a acariciar os arreios,
como que se no ventre
carregasses as ostras
e sua geleia,
Depois
como mariposa
enfrentas o rosto da loucura,
e nunca mais serás o mesmo….


Nimbus