1.
Sê tu a palavra,
branca rosa brava.
2.
Só o desejo é matinal.
3.
Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.
4.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.
5.
Beber-te a sede e partir
- eu sou de tão longe.
6.
Da chama à espada
o caminho é solitário.
7.
Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?
Eugénio de Andrade
1 comentário:
Num campo aberto onde nada é nada e apenas o apenas não é senão uma mentira, pois não há o singular, nem o plural, apenas não há e não há apenas e não há o haver
simplesmente nada
Num lugar que não é lugar onde não se pode dizer onde, pois não é um ponto, nem um campo, nem um plano nem lugar
simplesmente vazio
As luzes apagaram-se há muito tempo, mas num tempo que não é tempo e talvez aquelas luzes nunca existiram pois existir não é possível, simplesmente não há o simples, nem o complexo
nada
Alguém quebrou as regras e ousa existir e tornou esse lugar um lugar, e deu tempo ao verbo e deu a alguém a voz para falar sobre o nada que nada não é mais. Pôs um ponto final e criou uma frase no silêncio e chamou aquele vazio de seu
um lugar
Fez a ponte entre um espaço onde tudo é caos e tudo é tudo, o nada é impossível, e um espaço onde o tudo é impossível, até o impossível é impossível e tudo é o reflexo de algo incompreensível
impossível
Com uma mão calou tudo e apenas sorriu
E veio até mim contar dessa solidão onde não há ninguém apenas ele mesmo mas que não importa porque, simplesmente,ele é num lugar onde sequer o ser é ser e o não é uma utopia
disse sim
E as luzes tornaram-se uma memória num lugar que não era lugar e o tempo era uma possibilidade no improvável, sendo o provável nem uma ideia formada
as luzes haviam-se apagado
Uma a uma, cada voz se apagou, cada cor se desfez num borrão, e seu corpo mergulhou em
nada
Num campo aberto de uma nova vida, onde vida era apenas uma promessa e o apenas tornou-se o nome de sua alma só, e a memória criou o tempo para que o vento pudesse passar e ser apenas passado
ele vagueia
simplesmente ele vagueia
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