Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha..
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo
Em cima como ramos que um mesmo vento move
Em baixo como raízes vermelhas que se tocam..
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes.. quando nem existias..
Quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou..
Cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida..
Dormi junto contigo a noite inteira.. enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos..
De repente desperto e no meio da sombra meu braço rodeava a tua cintura..
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos..
Dormi contigo.. despertei.. e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida.. e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia..
Pablo Neruda
2 comentários:
A noite vem às vezes tão perdida
e quase nada parece bater certo.
Há qualquer coisa em nós
inquieta e ferida
e tudo que era fundo fica perto.
Nem sempre o chão da alma é seguro
nem sempre o tempo cura qualquer dor
e o sabor a fim do mar que vem do escuro
é tantas vezes o que resta do calor.
Se eu fosse a tua pele
se tu fosses o meu caminho
se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho.
Trocamos as palavras mais escondidas
e só a noite arranca sem doer.
Seremos cúmplices o resto da vida
ou talvez só até o amanhecer?!
Fica tão fácil entregar a alma
a quem nos traga um sopro do deserto
olhar a distância nunca acalma
esperando o que vier de peito aberto.
Se eu fosse a tua pele
se tu fosses o meu caminho
se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho.
Mafalda Veiga
Muitas felicidades aos dois!
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