domingo, 23 de janeiro de 2011

Confundimos os deuses....


Confundimos os deuses
quando pedimos perdão
e de joelhos a sangrar pelo vazio
do erro ou da razão,
quando no pico do êxtase
gememos como crianças
e nos libertamos da ânsia
de devorar o mundo.
Mas teu ventre ainda molhado
já esqueceu,
os rostos do Olimpo
e o simples
que é,
Amar …..



Nimbus



2 comentários:

Anónimo disse...

Morri...

Sentei-me justamente nas bermas da vida...
E no estranho ofício da procura da felicidade, enrolei as mãos de um veludo áspero com uma ternura ríspida...

Levantei-me depois, menos viva, num espasmo, num sorvo estremecido por uma noite sem movimentos...
Vidrada por uma sinfonia a devorar-me por dentro...

Enquanto caminhei para trás, nenhuma palavra me sobreviveu hoje.

E nesse dia houve mil mãos que me seguraram de cabeça para a frente e no túmulo continuei a ver o teu rosto a sorrir no meu...

Com sonhos desfeitos e as imagens a fecharem-se numa estrutura total, sintética e de um autismo tão imenso quanto a tua ausência...

Agora, tenho a liberdade de não ser eu...

Morri na noite ondulada num oceano de solidão vazio... Com páginas em branco...

Eu não sei como te dizer... não sei como te dizer que há em mim uma morte desfeita neste esquecimento perdido...

Eu não sei como te dizer que eram sonhos...

Que esta morte de que falo eram os meus braços abertos, e que, eu era aquela que cantava nas pálpebras abertas dos teus ombros...

E não sei... não sei porque esta história não tem história.

Saudade por sentir debaixo dos sonhos que sonhavam sozinhos... Sozinhos nas memórias já sem território...

Senti-me uma música humana, feita de veias e dores mesquinhas. E vazios... E lugares parados e extasiados numa espécie de alegria fingida...

Chorei baixinho, juntando as mãos sombrias enquanto lentamente as imagens me surgiam queimadas pelo ar subitamente ardido.

Como o caminho que levo... tão surdo, tão mudo...

Eu apenas... Minúscula na fuligem dos estrondos e das faíscas numa idade sem mistério e sem memória.
E sobre um futuro vertiginoso, arrancado à pressa do coração, digo: morrem-me os dias sem ti...

Antes de sucumbir corri pelas ruas do medo, sem saber por que ruela seguir, até encontrar o fim de nós...

Agora que morri, o que fica?

Gostava de te ter dito que quando eu acendo as pálpebras, por dentro cai o som do céu na boca e entorno-me de uma ternura que respira depois...

Dividem-se os gestos, esquece-se a cumplicidade, e o que fica depois?

A luz... As pálpebras... Um sorriso...

O caminho mais curto levou mais tempo. Tive de voltar para trás...

E juro-te, que quando o comecei a trilhar achei (e juro, mais uma vez que sim) que os meus pés tinham sola de eternidade e que os meus olhos tinham uma cegueira reconstruída hoje na resina das minhas memórias...

Morri às seis da manhã... E era a essa hora que antes me seguravas tantas vezes e me olhavas vertiginosamente pelas pálpebras quase transparentes da manhã.

Tantas vezes te aguardei que não sei se algum dia não te atrasarias...

Crucifiquei-me nos espinhos que não quis ver antes, enquanto olhava para as imagens bocejadas no silêncio dos teus gestos...

Sabes, morri. Às seis e pouco da manhã. E arrependi-me de não ter respirado a intensa maresia do teu ser só ao de leve...

As minhas asas tiritam de frio. E o frio corrói-me a carne, e os ossos. Se assim não fosse, um dia iria aí em baixo dizer-te tudo, recusando tudo...

Ardi a vermelho nos braços estendidos pelo chão. Cansada. Porque ele esperava quase nada... Porque dele esperava quase nada...

Bastaram dois passos para o passo mortal... não saber onde esteve o princípio deste haver princípio e a terrível verdade que é tudo ter esquecido por simplesmente julgar haver um começo...

Comigo não trouxe nada. Nenhuma palavra nas mãos, nenhuma imagem de ti.

Morri para que morresses em mim...

Morri… e fiquei sem ti... e continuei sem mim...

Anónimo disse...

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