segunda-feira, 29 de março de 2010


vêmo-nos
não

olhamos para uma imagem que criamos
sonhamo-nos
adiamo-nos

a separar-nos
neblina
um buraco negro

hoje
ontem
recuamos no tempo
para dentro de nós mesmos
perdemo-nos

na bruma
ficou
aquilo que não podemos esquecer
como uma campa rasa
abandonada onde guardamos
a nós mesmos.
já não sustentamos o corpo
já não lembramos a alma
o luto vem como xaile
para esconder o coração,
a alma que doi,
o passado.
entrego nos braços da morte
o meu coração como um filho.
guarda-o bem
por mim.
guarda-me a mim.

domingo, 28 de março de 2010

Amor...


Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não comtempla,
sempre o amor procura,
tacteia entre o escuro,
essa perna é tua? esse braço?
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
àbre-se a alma à lingua,
morreria agora se mo pedisses,
dorme,
nunca o amor foi fácil,
nunca,
também a terra morre....
Eugénio de Andrade

sábado, 27 de março de 2010




.... não esperes por mim,
pois eu embarquei
num longo espectro solar....
Nimbus

quarta-feira, 24 de março de 2010

MARTE

Marte - visto pela sonda Mars




Gigões e Anantes

Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais,outros são um bocado menos.

Era uma um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. - Em quê? - O gigão era tão grande
que não se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse então nem se sabia se cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
Era chegar ao pé deles e perguntar.
-Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
-E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbipante era o gigão,
e o anante o que fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer aquilo que a Ana queria.


Manuel António Pina

quarta-feira, 17 de março de 2010

TaLvEz (by KI)




















TaLvEz

talvez nas ilusões deste hemisfério
a lua seja toda em camenbert,
eu seja um mineral quando quiser
e o meu ego o centro deste império...
talvez seja exequível não sonhar
com esta humana essência em desatino
e talvez, no futuro, o meu destino
seja aquele que uma fada me apontar...

talvez seja "talvez" todos os dias
e nem por um momento haja certezas,
razões para caminhar ou convicções...

talvez das ilusórias ironias
surja um castelo cheio de princesas
guardadas por maléficos dragões...


by poeta

domingo, 14 de março de 2010

Adeus, não afastes os teus olhos dos meus!

Quando dormes
e te esqueces
o que ves
tu quem és
quando eu voltar
o que vais dizer?
vou sentar no meu lugar

Adeus
não afastes os teus olhos dos meus
isolar para sempre este tempo
é tudo o que tenho para dar

Quando acordas
por quem chamas tu?
Vou esperar
eu vou ficar
nos teus braços
eu conseguir fixar
o teu ar
a tua supresa

Adeus
não afastes os teus olhos dos meus
eu vou agarrar este tempo
e nunca mais largar

Adeus
não afastes os teus braços dos meus
vou ficar para sempre neste tempo
eu vou conseguir para-lo
vou conseguir para-lo

Vou conseguir

Adeus
não afastes os teus olhos dos meus
vou ficar para sempre neste tempo
eu vou conseguir para-lo
eu vou conseguir guarda-lo
eu vou conseguir ficar

Procurei-te toda a noite...


Procurei-te toda a noite,
mas não resisti
a vinho e bordéis,
vodka, coxas e seios,
e talvez embriagado
alucionei-te num ventre
de utopia
Mas simplesmente não eras tu!
Segui os boatos das esquinas
a aragem de tua pele,
Mas nunca,
Nunca,
te encontrei.....
Ou apenas,
Apenas te criei
Para não morrer só.....
Nimbus

sexta-feira, 12 de março de 2010


.... e entre os repteis de ferro
que sussurram gritos de aflição,
como que sendo violados
pela ãnsia de suas presas,
fiz-me hóspede de ti,
e
murmurei,
Amo-te,
como se tuas pupilas
me denunciassem
dos crimes em que fui cúmplice.....
Eu também,
preferia que me abandonasses de vez
e que teus oradores
incessantes e hunos
me vendem-sem como escravo
a uma atalaia sem castelo.......
Nimbus

domingo, 7 de março de 2010



Os dias são inóspitos
campos de guerra
de onde levamos
o intenso cheiro a pólvora
nas asas dos sonhos......
E o leve aroma da brisa
de teu útero
como ferida
em pleno combate.....


Nimbus