quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Vestígios



noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavamos líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a bebera serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
Al-Berto
Horto de Incêndio

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Terror de te amar...


Terror de te amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa
Sofia de Mello Breyner Andresen